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AMOR FRATERNO

Bernardino Nilton Nascimento


O amor não é só uma relação para com uma pessoa específica; é um sentimento amplo, uma orientação da alma, que determina a relação de alguém para com o mundo como um todo e não para com uma “parte”.

Se uma pessoa ama apenas outra pessoa e é indiferente ao resto dos seus semelhantes, seu amor não é amor, mas um afeto, uma preocupação maior, ou medo da perda, ou um egoísmo ampliado. Contudo, a maioria crê que o amor é constituído de um elemento e não pela capacidade de amar o todo.
Por não se ver que o amor é uma plenitude, uma força da alma, acredita-se que tudo quanto é necessário encontrar é a parte certa e tudo o mais viria depois por si. Tal atitude pode ser comparada à de alguém que queira pintar, mas, em vez de aprender a arte, proclama que lhe basta esperar pelo objeto certo, passando a pintá-lo belamente quando o encontrar.

Se verdadeiramente amo alguém, então, amo a todos, amo o mundo, amo a vida. Se posso dizer a outrem: “Eu te amo”, devo ser capaz de dizer: “Amo em você a todos, através de você amo o mundo, amo-me a mim em você”.

Dizer que o amor é uma orientação que se refere a todos e não a um, não implica, entretanto, a idéia de que não haja diferenças entre vários tipos de amor, que dependem da espécie da pessoa que é amada.

A mais fundamental espécie de amor, que alicerça todos os tipos de amor é amor fraterno. Entendo por isto o sentimento de responsabilidade, do cuidado, do respeito por qualquer outro ser humano, o seu conhecimento, o desejo de aprimorar-lhe a vida. É essa espécie de amor: “ama o teu próximo como a ti mesmo”; caracteriza-se pela própria falta de exclusividade.
Se desenvolvi a capacidade de amar, então, não posso deixar de amar meus semelhantes. No amor fraterno, há a experiência da união com todos os seres, da solidariedade humana, do sincronismo humano. O amor fraterno baseia-se na experiência de que todos somos um.

As diferenças de talento, inteligência, classes sociais, conhecimentos são mesquinhas em comparação com a identidade do íntimo de cada um, comum a todos os seres. A fim de sentir essa liberdade de amar, é necessário penetrar até a alma. Perceber em outras pessoas as diferenças que nos separam. Se entro em sua alma, percebo nossa identidade, nossa fraternidade. Essa relação é de centro a centro, em vez de ficar em seu contorno vou direto ao “cerne, à essência do seu coração”. “As mesmas palavras (por exemplo, um homem diz a uma mulher: “Eu te amo”), podem ser extremamente comuns ou extraordinárias, de acordo com a maneira por que seja falada. E essa maneira depende da profundidade com que ela é pronunciada. Sem que a vontade seja capaz de fazer qualquer coisa. E, por um maravilhoso concerto, elas alcançam a mesma profundidade em quem as ouve. Assim, o ouvinte pode discernir, se tiver algum poder de discernimento, qual é o valor das palavras”.

O amor fraterno é amor entre iguais, mas, na verdade, mesmo como iguais não somos sempre “iguais”; e por sermos humanos, temos toda a necessidade de ajuda. Hoje eu, amanhã você. Essa necessidade de ajuda, todavia, não significa que um seja desamparado e o outro poderoso. O desamparo é uma condição transitória, permanente e comum é a capacidade de erguer-se e caminhar pelos próprios pés.

Contudo, o amor ao desamparado, o amor ao pobre e ao estranho é o começo do amor fraterno. Amar a própria carne e o sangue de alguém não é completa realização. O animal ama suas crias e cuida delas. O desamparado ama seu protetor, pois sua vida depende dele; o filho ama os pais, pois precisa deles. Só no amor aos que não servem a uma finalidade começa a ser despertado verdadeiro amor da alma.

Tendo compaixão, o ser humano começa a desenvolver o amor por seu irmão e em seu amor por si mesmo ama também o todo e a toda espécie de vida. A compaixão não envolve o elemento de conhecimento e identidade, ela envolve todos os seres vivos na Terra e vivos em outras dimensões.
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