A dependência que faz tanto mal
Embora o começo de todos os relacionamentos afetivos seja regado a muita sedução, sonhos e desejos, infelizmente com o tempo, o envolvimento emocional pode levar à dependência, rotina e desgaste. Uma pessoa pode se tornar dependente de comida, drogas, álcool, jogos, trabalho, filhos ou amigos. Mas é na relação a dois que com mais freqüência a dependência se torna destrutiva, podendo sem dúvida, tornar-se doentia e simbiótica, impedindo o crescimento e a troca entre o casal. A dependência geralmente acontece quando um ou os dois já tiveram experiências durante a vida de abandono, rejeição, levando-os a temerem passar novamente por isso. Cria-se a dependência, como uma forma desesperadora e fantasiosa de impedir que aconteça de novo.
Mesmo quando a realidade mostra uma relação transformando a vida em um pesadelo, muitos acreditam ainda que estão sonhando, pois é difícil acordar. A pessoa ao sentir-se incapaz de mudar sua vida, se acomoda. Geralmente a dependência psicológica acontece por necessidades inconscientes nem sempre identificadas. Além disso, ela propicia gratificações secundárias, como a sensação de segurança. É como se a pessoa respirasse através do outro, como se o outro fosse o responsável pela manutenção da sua vida e do ar que respira. Talvez por causa dessas gratificações, muitos sentem dificuldade para se libertarem, ainda que a relação esteja totalmente destrutiva.
Os dependentes deixam que desvalorizem tudo que lhes é mais caro: seus sentimentos. Perdem completamente o valor ao se permitirem que o outro jogue no "lixo" seu eu mais verdadeiro, desprezando tudo que dizem, sentem, fazem, pois nada que é seu é valorizado, ao contrário, tudo é motivo de crítica, fazendo-os acreditarem serem incapazes. O que não é verdade!
Em geral, essas pessoas tornam-se tristes, depressivas, enclausuradas em seus quartos escuros, podendo ficar assim durante anos, até o momento em que não suportam mais e explodem.
Algumas também implodem, ou seja, somatizam e adoecem gravemente. Depois de externalizarem toda raiva contida, e conseguem retomar de alguma forma sua saúde mental, podem perceber as contradições no outro e em si mesmo, tomando consciência de quanto eram sufocadas sob os valores e interesses de terceiros. Retomando essa consciência, que pode ser adquirida através do processo de psicoterapia ou mesmo da profundidade da dor, começam a perceber seus próprios valores, seus desejos, vontades e sentimentos, resgatando assim com sua saúde mental, a auto-estima e o amor-próprio.
Neste momento percebem que são capazes de ouvirem suas próprias vozes e não mais os gritos que as ensurdeciam e as palavras que as dilaceravam, percebem que suas vozes podem voltar a se tornarem novamente doces, suaves, como uma melodia gostosa de se ouvir. Conseguem assumir a responsabilidade pela própria vida, não mais colocando a sua vida na mão de quem quer que seja, mas na única pessoa em quem pode confiar: em si mesma. Claro que tudo isso exige muitas lutas internas, rever um passado que machucou muito, mas que se não for identificado e elaborado, continuará machucando através das repetições de padrões antigos e na manutenção de relações destrutivas.
Para romper esse círculo vicioso é preciso identificar as necessidades que não foram supridas durante a vida, principalmente na infância, entender que por mais que tenha machucado, já passou e desprender-se da ânsia, inconsciente é claro, de compensar perdas e rejeições passadas por meio de um relacionamento dependente como garantia de não mais ser abandonada. E ao conseguir se libertar de um relacionamento doente, cure cada uma das feridas existentes e não se entregue imediatamente a um novo relacionamento, pois será grande o risco de transferir os comportamentos viciados se ainda não forem identificados, podendo comprometer mais um relacionamento.
Rosemeire Zago
Psicóloga clínica
com abordagem
jungiana. Desenvolve
o auto conhecimento
e ministra palestras
motivacionais.
Contato: (011) 3815.9172
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